Devo esvaziar-me.



Tenho compulsiva raiva dentro de mim
Que me pingam de gota em gota, até que o balde se encha
Até que o balde transborde, mas nunca se esvazia.
Nem o café quente faz com que passe
Ou o cigarro seguido de um som bem enlouquece-dor
Faz com que pare a raiva.
Devo consumir outras vidas, esvaziar essa que me tem o nome de ar
Parar um pouco de entupir-me de metáforas, sons, sonhos
Desejo muito, desejo o tempo, o mundo
Desejo o que tiver de existir depois da felicidade
Mas desejo um pouco de vazio, um pouco mais de frio
Um pouco de calma
De levantar e ainda me sentir deitada.

- Ouvindo: The Distillers.

Lama


Eu segurei rasgando a dor com você nas costas
Não é pelo cansaço, pela dor nas costas que reclamo
Talvez eu tenha me jogado de mais, agora sinto estar comendo lama
Aquelas salpicadas de lágrimas e um de pouco dor
Quero doce, gosto de algum cheiro bom na boca
Seu beijo, mas agora ele não ira matar minha sede
De fome, de amor, de abrigo, de um pouco mais de sede...


- Ouvindo: Krokus - Bad Boys - Rag Dolls.

Surrada


- Tenho que consumir necessidades pra alma
Segurar nos dedos algum cigarro
Que tenha sido surrado durante a noite
Me embriagar apenas para escutar os outros
Realmente me sentir algo além de pele e osso
Preciso desgraçar a vida para me sentir vivida
Esculachar, fuder com a morte esquecer a sorte
Preciso me amar, me odiando
Não vejo mais graça de me odiar te amando.

- Ouvindo: Krokus - School's Out.

Uma outra carta.


Se passaram anos depois daquele fim de algum recomeço do qual tanto tentamos
Me lembro que naquela época estava pensando ainda em me mudar
Te levar junto comigo, para aquele sonho que definitivamente sairia do papel
Mas por alguma merda do tempo, nem você, nem eu, eu, você do papel saiamos
Até hoje não acredito que na minha estante resta uma foto sua
Séria realmente difícil me livrar de você, pra isso terei que queimar meus peitos e com eles junto queimarei o coração...
Não quero ficar sem peitos, mas a dor aqui é má as vezes
Quase sempre é perversa, arrogante até
Se existo ela de novo me lembra que nada serei sem você
Se nada nunca fui, sempre algo com você eu possa ser
Não que eu queira existir, por que toda essa cerimônia me cansa
Mas as vezes me faz bem uma lambada, uma dança.

Moro perto de uma grande praça, aqui é frio, arrogante e calmo
Não me situei com datas, nem horários
Já deve ter percebido a minha rotina de tantas cartas atrás
Parece que do papel o nosso amor não sai mais
Estranho pensar que quando receber essa carta, talvez irá chorar ou rir de mim, por mim
Apenas se sinta no direito de algo sentir.

(...)

Eu esperei você, eu realmente lhe esperei
Mas você não esteve lá, nem ao menos chorou, me responda, chorou ?
Percebo que é cega a rigidez que meus olhos tem
Pela hierarquia de felicidade que me propus a ter. Você. Te ter. Você.

Acho que gostaria dessa cidade, dos lugares, três jeitos, defeitos
Estaria em casa, abusaria dos meus cigarros e por baixo da minha saia
Sigo na rotina daquelas rimas, daquele amor, do resultado da dor
Sinto a sua presença, aqui, no porão, no elevador, no aquecedor
Desculpe, até me culpe mas essa carta eu te mando com minha dores
Sua falta, a minha falta, a minha vida, a minha estrada
Que é vista sempre em página virada.

-
________________________________________________________
Tenho que parar de mandar cartas para pessoas que não existem, elas se incomodam.

-

Chorei, chorei, chorei !

A constante perda que me destrói é a de vidas

Me recolhem ao anoitecer quando eu realmente sou eu
Acabei chorando, engolindo cada lágrima como a primeira de muitas outras
Isso me doeu o corpo, esmagando meu peito e tirando meu sorriso
Chorar em frente as pessoas me deixou surda a fraqueza
Mesmo que ela grite não vou escuta-lá, vou apenas fazer parte dela
A desobedecendo quando me disse para deixa-lá partir.
Agora que me tenho em meu lar, não quero sair daqui cedo
Me empoeirar de palavras chulas, de adivinhações de como será o resto do ano
Eu não queria, não quero conviver com uma vida que não é minha
Não quero chorar mais na frente das pessoas, não quero isso
Eu apenas quero existir, nem que seja no meu mundo.



'' O vôo da pedra ''


Quando coloquei meu pés no chão, não senti a dureza que havia pisado
Era triste e frio e com o tempo me acostumei a crava-los na dor
Complicava em mim, saber a onde pisar, saber pisar
Me doía levantar de manhã e ter que sufoca-los calçando-os
Doía como que se sobre eles restasse apenas carcaça para move-los. Eu !
Nunca me dei conta, de como era preciso tira-los do chão, arranca-los
Forçar algum vôo, forçar alguma vida. Era preciso existir sem te-los no chão
Com o tempo foi fácil acostumar me ao provável, a cotidiana dor de permanecer estável
Moço você sabe como é não poder voar ?
Imagine o vôo sinta o vento.
Feche os olhos e sinta o cheiro de liberdade que gruda na pele
Conseguiu sentir ? não ? tente de novo !
Agora você sabe o que eu quero sentir, não sabe ?
É improvável, mas conseguiu sentir o sabor da pele, tem gosto de sentimento bom
Aqui no chão não se tem gosto, aqui se tem apenas paredes, teto, chão...
Sobressai por fora da cabeça o que imaginei para mim, mas agora agora não existe
Moço acredita se eu te dizer que nunca realmente sei o que é existir ? Você sabe ?
Deve ser pedra dura o significado, tão triste
Por que é apenas real quando é jogada com força no chão
Ninguém realmente quer ser jogado no chão, as vezes só é preciso.
No final você ainda está no chão mas dessa vez esta com seu corpo todo
Sentir que é real, por que ele doí, e aguá salgada pinga de seus olhos
Por mais que as enxugue, elas se transformam em poças
Terei que me conformar em ser pedra dura ? mas moço pedra não voá !
Por mais forte que me jogo, acabo sempre no chão.
O chão não tem gosto, e o que mais doí é saber que ainda, algo me prende nele.


- Ouvindo: Incubus - Love hurts.

Para ser lido ouvindo Incubus - Drive.


Oi ! Eu vim aqui apenas para te dizer que decide ir embora
Eu esperava uma vida aqui, com cortinas, tetos, almofadas
Pensei muito antes de me mover do carro até sua porta
Para lhe dizer, que o grande que tínhamos era tão pequeno
Que nem sentir eu o sinto mais. Sei lá talvez nunca tenha existido.
Fiquei horas no carro, vendo as luzes da sala se apagando,
Vendo você andar de um canto para outro pela janela que tanto quis
No nosso quarto, talvez estivesse preocupada com a minha demora
Ou simplesmente estava aflita como esteve esses dias todos
Pois bem, agora aqui na sua frente se torna fraco e complicado me explicar
Se possível apenas ousa, é importante que me escute, pelo menos uma vez.
Eu consolidei meus sonhos com uma corda no pescoço, essa corda é você
Por mais que eu me apoiasse na cadeira, o amor
A corda queria me ter sobre seu domínio, mesmo que me custasse a vida
Antes que a cadeira ficasse fraca de mais para me aguentar a joguei para longe
Para tão longe que meu corpo foi junto com a força do impulso
Você no fim me matou, e o amor tenta se recuperar sem as pernas, sem o apoio.
Por mais que eu tente não vejo corrida nesse seu vago olhar. Triste !
Talvez seja culpa minha de tanta tristeza, mas eu jurava estar fazendo o certo
Se não, perdoei-me, mas foi o que pude dar, foi o maior que pude dar
Ainda não te reconheço, ainda não me lembro do seu rosto
Por que a moça pela qual me apaixonei gostava de cortinas
Tinha o olhar mais sincero que meus olhos viram, gostava
Mas o que vejo é o corpo dela aqui, esticado me odiando, quase morto
O pior é que admito não saber como reviver aquela moça, eu não sei
Tentei esticar os dias, para que você me olhasse, na desculpa de encontra-la de novo
Mas tenho que me conformar sou viúvo agora, não sei como chorar a sua morta e a minha.
Meus olhos não sabem como encontrar o seus
Mas se aquela moça que conheci ainda viver, me procure
pois podemos tornar grande o que hoje é pequeno
E sobre a minha morte não me importo de morrer de novo, de novo e de novo por você.

Poeira


Precisava respirar
Retrair o ar, a ar
Deslocar os pulsos
Sair de lá, para qualquer lugar
Sem ao menos me culpar
Achar...
Era engraçado a dança
Meus pés cansadas
Meus cigarros
Minhas vidas
As suas, que foram minhas
As minhas que foram suas
Sufocadas
Eu apenas queria respirar
Não te deixar.

- Ouvindo: The Distillers.

Sendo eu minha própria vizinha !


Eu poderia deixar de ser tão Ariela, Ar, Arie! Me substituir ?
Querendo as vezes me passar por um desconhecido
Tirando férias do meu corpo, deixando os outros se acostumarem com a minha falta
Eu poderia realmente deixar de ser Ariela Venâncio ? Posso ?
Apenas para me tornar o que espero que gostem, reagindo, resistindo.
E sendo eu, eu posso ser de verdade, mentindo, fingindo, fugindo mesmo regrando meus próprios pés.
Que se casam com o peso do meu corpo
Que trisca triste no chão com uma profunda incerteza de ter um coração
Posso parar de mastigar as dores amargas sendo eu mesma
Mas os pro-nomes me julgam quando eu tento colocar o a no lugar do o
Então não posso mudar, mesmo por que algo deve ser para sempre
Mas ando cansada de ser tão Ariela, encubada na sua caixa queimada e sempre vazia
Tentando fugir a qualquer custo de mim mesma, ou talvez seja da Ar, da Arie
Mas veja bem, não falo de nomes, pré-pro estabelecidos, falo de carne, vida, de uma existência.
Que machuca cortando os pulsos fracos, tentando odiar sua própria pele
Odiando sua vida, sem saber por que. Gostando da Ariela, da Ar, Arie
Mas moço é complicado conviver com elas, dentro e fora de mim
É desgastante ser gentil mesmo com a pessoa em frente ao espelho
Seguindo eu mesma, sendo eu mesma, sendo de mais pra mim
Por que ando parando com essas, esses, se assim posso dizer seres que são meus vizinhos
Donos, ladrões, vespas, sangue sugas, que sugam, sugam algo inabitável dentro de mim
Eu mesma !
Mas moço ando cansada de parar, carregando no chão minhas vidas
Que não voam, querendo deixar seu corpo jogado em algum lugar
A carcaça que não me pertence nem serve como apartamento, nem pra segundo andar
Eu poderia realmente deixar de ser A-lguém ?
Para simplesmente gostar de em mim algo habitar
Já que me cansa ser meu vizinho sem portas, nem muros para não me odiar.

- Ouvindo: Black Keys.

Meus sonhos me enganam !


As montanhas de nuvens se embaralhavam em meus pensamentos
Eu sabia realmente a onde queria chegar, mas meu corpo não se movia
Foi quando pensei estar em transe, mas não talvez fosse apenas um sonho, um leve pesado sonho.
Meu corpo inerte, louca louca eu realmente me sentia assim
Foi engraçado vomitar em cima e fora de mim, uma mistura grotesca de vida
Ao meu redor vultos esnobes, um calor desconfortante que me deixava mais imóvel ao resto
Me erguia com os olhos, os únicos vivos, míopes e embaçados que quase nítidos me movia
As vozes, os risos, pareciam longe do meu corpo mesmo sentido todos perto de mim
Quando realmente consegui me mover recebi nos lábios um beijo de uma desconhecida
Levantei-me peguei meus cigarros, minha mochila e fui embora
Tudo muito real, minha cabeça doía, meus olhos inchados, corpo molhado
Sai do prédio e ao pisar no chão frio e úmido percebi que estava descalça
Olhei na bolsa procurando alguma coisa encontrei um par de calçados. Sujos e molhados!
Decidi ir descalça, esperava encontrar algum táxi por lá, um ponto de ónibus, qualquer coisa.
As ruas eram compridas e desertas, bonitas da sua forma
Estava realmente cansada de andar, quando decidi voltar para o prédio
Não encontrava nada por lá, nem ratos, vozes, vultos, nem frio
Quando cheguei no prédio, a moça que havia me beijado me esperava na porta
Rindo como se soubesse que eu fosse voltar, para o prédio para ela
Ela não era bonita, tinha os olhos pretos, pele branca, cabelos negros e um semblante triste no olhar.
Peguei um cigarro, para digerir melhor aquela loucura em preto e branco
O prédio estava movimentado, tumultuado, com o cheiro de vomito e limão nas paredes
Eu queria saber a onde eu estava, mas só a moça ficava do meu lado sem nada falar
Sentei-me, bebi um pouco, vomitei de novo, era nojento e vulgar aquele lugar
Mas tudo que eu fizesse eu sempre voltava pra lá
Quando enfim acordei, não havia ninguém por lá, nem a moça que insistia em me beijar
Eu estava sozinha, e de uma forma ou de outra eu queria a moça para me acompanhar
Quase como um vulto, eu acordei.
Peguei um cigarro para aceitar a despedida da moça que agora a vejo em todo lugar...


- Ouvindo: Livin' Blues.

Uma carta pra dizer adeus !

Sabádo 16 de de maio.

A muito tempo eu me privei em te dizer que sua dor me manipulava
Machucando egocentricamente meus dois braços, minha mãos, meus pés
Me deixando imóvel a tudo que me deixava feliz, mesmo sem eu perceber.
Eu te amava, em mim fazia algum sentido essa palavra, pra mim era o que bastava
Dizer te amar, apenas por querer amar.
Eu assim me pus a sofrer, calada, inconscientemente.
Não adiantava passar horas te ouvindo, te sentindo, no fim você era apenas carne e pele,
Que ficava podre, suja e com a pouca sensibilidade que eu tinha, me enojava te amar.
Me privei apenas por acreditar que amar era sofrer, caminhando com a dor no bolso esquerdo.
Mas você sabe mais do que ninguém, que eu odeio tornar cotidiano em mim esses sentimentos Banais, e por mais que me frustrasse como individuo eu os deixei entrar
Sem nenhuma cerimônia, habitando a caixa e a ocupando
Sufocando as regalias que me propus a ter das quais amar ficava em ultimo lugar
Para de propósito não ter a dor como aliada, mas já agora ela é intima
Se de certo comanda minhas duas mãos que enfraquecem o pincel e torna fraco o que havia a lhe dizer.
Foge de controle as minhas palavras e quando a mim voltam, se tornam essa rasura de dor
Essa fraca carta de amor, ah! Seria sofrido lhe empurrar de um penhasco
Com cada palavra de odeio que tenho a lhe dizer,
Mas depois eu gostaria de te ver precisar de mim de novo, segurando minhas mãos para se ergue
Mas não quero rasuras nessa despedida, na verdade só quero um fim, como nunca acreditei querer antes.
Se cair alguma lágrima quando ler esta carta, as enxugue não admito mas que engane minhas Palavras com sentimentos baratos e de aluguel, não quero que minta achando ser sincero esse Amor, eu já cravei meus pés e machucara se tentar tira-los de novo, quase os cortou.
Não precisa retornar respostas. Nem desculpa, ou dores
A caixa anda vazia, queimada e sozinha
Mas me sinto livre e feliz de ter meus pés cravados
Já que a realidade agora venha a se tornar meu melhor aliado...

De: Arie.

- Ouvindo: Livin' Blues.

Consolide !


Rasgue a dor com os dentes
Finja a dor, relutando de repente
Tapei a verdade dizendo mentiras
Consolide sua armadilha sentindo vontade
Olhe, regresse, mas perto, engane de verdade

Não precisa permanecer, apenas volte para me ver

Sinta o gosto, repare o oposto
O igual é banal, chato, formal
Observe, confirme o engano
Aproveite o papo, relate o ato
Aprecie o desejo esqueça o erro

Fique mais um pouco, depois vá, depois volte

Não explique, apenas justifique
Estique, aumente, consolide, invente
Modifique, depois aproveite
A mentira, a história, a marmota
Comemore, beba, ame, desapareça
Depois de tudo meu amor permaneça.

- Ouvindo: Bob Dylan.

Ariela Venâncio. Tecnologia do Blogger.

Agora, Aqui !

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"Publicar um texto é um jeito educado de dizer “me empresta seu peito porque a dor não está cabendo só no meu.”

(Tati Bernardi)



De encontro.

Os Viciosos do Circulo.