Nunca fui boa em nada.


Nunca fui boa em guardar coisas, objetos, sentimentos, eu era boa mesmo em ter as mãos livres, o coração vazio, era isso que me confortava saber que nada me derrubaria.

Carregava em minhas mãos apenas meus cigarros, andava como se nada existisse além de mim e meu mundo, eu era confusa apenas com a hora de regressar pra casa, nada me tomava tempo a não ser alguns livros e a escrita, tudo era corrido e belo, tudo estava encaixado e empacotado, nada era capaz de me tirar da rota que eu mesma havia me colocado a não ser você.

Você com todo esse amor, com todo esse brilho, com tanta saudade, tanta abandono, você me falando baixinho tudo o que eu mais detestava ouvir, ouvir alguém dizer que precisava de mim, que dependia de mim pra viver, que me amava, eu me desmontava toda esperando a hora certa para me montar e fugir.

Todas essas fugas em vão, todas forjadas, cobria-me apenas esperando o momento da sua chegada, mas nunca fui boa em guardar coisas, nunca fui boa em nada. Todo esse amor não me fazia bem, ele me machucava, apenas por querer devolver algo, mas eu nada tinha para dar em troca, eu nunca tive nada em minhas mãos, tinha apenas meus cigarros e de uma forma horrível seu coração, frágil, batendo cada fez mais, querendo viver cada vez mais. Eu covarde e fria como sempre fui querendo ficar cada vez menos, tentando fugir cada fez mais.

Era desconfortável saber que você me amava, logo eu que nunca pedi nada em troca, logo eu que sempre gostei de viver sozinho, o que houve? O que fiz de bom para merecer seu amor assim, todinho pra mim?

Eu nada tinha e você recebendo tão pouco, mas tão feliz, eu com tanto. Eu nunca fui merecedora de nada, bastava-me apenas o calor do sol e a luz da noite, seu amor era de mais pra mim, como tudo que belo é, decide como uma covarde que sou fugir levando nas mãos, agora cheias, seu coração.  Era isso que me confortava saber que algo de bom realmente era meu.

{Ouvindo: Radiohead}

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(Tati Bernardi)



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