Não pretendo lhe contar sobre minhas lutas diárias, eu
exponho meus sentimentos como roupas numa vitrine, eu estou cansada de me
promover atoa, ninguém está disposto a pagar o preço de me ter por completo, esquecem-se
da etiqueta, já querem me devolver no primeiro defeito, e ainda voltam com
direito a trocas, cansada de me vender para o mundo sem conhecer realmente o
comprador.
Hoje não estou aqui tentando lhe mostrar minhas tripas,
coração e querer que as compre como uma carne fresca na feira. Não vou dissertar
sobre as minhas fraquezas, minhas crises, e me boicotar como costumo fazer, pelo
menos não hoje, deixo para o próximo mês uma liquidação ou um leilão de quem dá
mais pelo meu coração.
Cansei de me entregar ao tudo e ficar com nada, de ser luz e
brilho e depois me tornar uma decepção. No começo tão espontâneo, tão
interessante, quase não me perco com as palavras e com o tempo vou virando
indecisão, desespero, a ponto do desequilíbrio da falta de alto controle, eu
não preciso te presentear com as minhas incertezas, nem com a minha tristeza
constante. Você não precisa saber do meu choro, nem das minhas despedidas, dos
bilhetes que espalhei pelo quarto, os preguei na geladeira, na porta, aqueles
avisos "para não esquecer, de que não posso lembrar-me de você",
"para não esquecer de que por hoje não te envio mensagens, nem te
ligo", "para não se esquecer de mim". Meu coração não está a
venda. Cansei de estar em promoção, cansei de ter certeza de tudo e no segundo
seguinte não ter certeza de nada.
Talvez se tivesse me dito algo há uma hora. Se tivesse
chegado mais cedo, me telefonado. Estou cansada de estar à venda em troca de
carinhos diários. Encaram-me, criam ilusões, me experimentam, os olhos brilham.
“Talvez deva dar uma ajustada aqui”, “mudar um pouco a cor”, diminuir os
excessos”, "não serviu, não gostei, não quero", cansei de esperar
alguém que me leve sem ajustes, sem mudanças, que goste do que vê, sem devolução, sem querer
costurar meus defeitos.
(Ouvindo: The Distillers)