Posso cortar suas asas ?

Ela o amava, ele a amava, mas nunca lhe havia dito.

Ela levantou-se cedo, arrumou a casa, fumou um cigarro, deu-lhe um beijo no rosto e foi fazer compras, quando voltou ele estava sentado olhando algo longe, ela o beijou no rosto e foi para o quarto trocar de roupa, de novo quando o viu sentado na mesma posição, beijou-o, fez o almoço sorrindo para ele, ele continuava longe, ríspido, ela sentou-se a mesa, comeu sorridente, alegre.

Perto das duas horas, os dois deitados na cama, ela alegre o perguntou: – Você me ama? Ele não soube responder fingiu que não havia ouvido. Ela de novo voltada a ele perguntou: – E agora me ama?
Ele olhou, pensou um pouco, mas apenas sorriu dando-se satisfeito pela falta de resposta.
Começando a ficar inquieta, ela pediu que ele a olha-se, ele virou-se na cama e a olhou. Ela sorridente levantou-se da cama abriu o guarda-roupa pegou uma arma e voltou a perguntá-lo: – Agora consegue me amar? Ele assustado levantou-se rapidamente da cama, observou seu corte novo, sua aparência limpa, sorridente, feliz, notou que ela continuava bonita, seus olhos brilhavam, ela estava como nunca esteve.
Ele quase sem pensar respondeu baixo: – Esta louca? Sabe que eu te amo. Ela sorriu, deu-lhe um beijo no rosto e puxou o gatilho contra a própria cabeça. Ele piscou os olhos em menos de segundos, ela estava no chão, ele se jogou sobre ela, chorou, ele a amava, mas só agora sabia disso, pegou a no colo com a cabeça estourada e tentou imaginar como era seu rosto, sua única lembrança era a de minutos atrás, sorridente, livre, ele chorou, chorou por longas horas, segurando-a toda deformada. Colocou-a na cama, deitou-se do seu lado e puxou o gatilho contra a própria cabeça, abrindo os olhos percebeu que ainda estava vivo, a arma não tinha mais balas, a arma tinha apenas uma bala, ele chorou, gritou, implorou coisas impossíveis, chorou, chorou...

Ele a matou, mas foi ela quem puxou o gatilho!

Durante o resto do dia ele chorou, chorou a ponto de inflamar os olhos, não ligou para policia, nem para os amigos e parentes, saiu de casa apenas para comprar outra bala, chegando a casa disparou contra a própria cabeça dessa fez enfim morrendo, do lado da mulher que ele amava, mas precisou que ela morresse para descobrir isso.

- Ouvindo: ( Nirvana)

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"Publicar um texto é um jeito educado de dizer “me empresta seu peito porque a dor não está cabendo só no meu.”

(Tati Bernardi)



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