É neste momento de fermento e graça
Que ignoro a existência, apalpando as mãos vazias no chão
Apagando o cigarro com os pés, atirando me na cama, cansada insônia.
Eu devia ter alguma proteção, um espaço vital entre o que existe e o que me faz mal
Você, sua mania chata de estar sempre certa, o idiotismo de tudo estar bem, pior pior
A conseqüência de nada acontecer
Devia ter uma barreira fechada de vidro tampando meu corpo e protegendo meu rosto
Contra todo esse pensamento bom e otimista, eufórico e correto. Uma farsa.
A existência me joga na cara que sou má, fria
Ela me diz coçando o saco que irei perder, morrer, pior viver
Autonomia filha de uma puta organizada, me erguendo toda manhã pra esperar o ônibus na calçada cansada
Levo na bolsa vazia e pesada à existência, largando de ponto em ponto um pouco da minha vida, longa, longa, longa e perto do fim.
Depois de horas de conversa, explicando o que ali fui fazer decide me aposentar
E deixar de viver, existindo só para mim, como sempre foi, como deve ser
Não me culpo por pensar em mim, de não gostar do calor, de elevador
Muito menos pela autocrítica que me penteia e me escova os dentes
Me arrumando, me erguendo, para mais uma existência cansativa e sem volta
E acabo conformando me que desperdiço o existir tão pouco usado por aqui
Sem trelas, arrependimentos ou meias furadas
Eu me prendo dentro e fora de mim, sufocando. Desespero infinito
E neste momento de fermento e graça que me despeço
Existindo,
Esqueça vou fumar um cigarro
- Ouvindo: Chico Buarque- Cotidiano.
Fermento Podre e Vencido
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quinta-feira
Ariela Venâncio. Tecnologia do Blogger.
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