Agora relembro.
Éramos felizes.
Eu fingia, você também.
Me fazia tão bem aquela enorme mentira.
Mas a única verdade era essa.
Nosso amor foi longo, bonito e mentiroso
Eu queria voltar, bagunçar seu cabelo
Te amar no fim do dia, no começo da estrada
Te xingar quando brigávamos
Lhe passar a mão nos olhos, para acreditar
Eram realmente de verdade
Te acolher no colo quando você chorava
Te segurando para não fugir, não me abandonar
Te encher de frases feitas
Quando eu lia algum livro, triste mas realmente bonito
Você me escutava com a cabeça em meus ombros
Você me amava com seu coração em minha mãos.
Mas eu ainda continuava mentido
Mentido para não machucar seu coração.
Seu coração em minha mãos.
Passei a gostar do cheiro.
Fui lavar o corpo depois daquele domingo imundo e agitado
Levei meus pecados, minha dores, alguns amores
Vi tudo aquilo descer pelo ralo, me limpando o coração.
Sai dali limpa, renovada, passei a gostar do cheiro
Me vesti, sequei os cabelos, me deitei e acendi um cigarro
Ao som de The Distillers, me conheci, agora eu era a única
Não havia mais sombras de outros nomes
Rostos, cheiros, sobreposições
Me havia, eu começava a gosta de existir
Mesmo ali no meu quarto a onde tudo tinha a minha cara
A onde tudo era eu, meu.
A onde só eu existia.
Gostei tanto de existir que agora me omito
Agora irei voar, me acalmar, irei morrer
Depois de tanta existência, nada melhor do que sumir.
Peguei meus cigarros, pus um Jeans rasgado
Meu ténis velho, mofado
E fui por ai. Existindo !
Rastejando, rasgando, alimentando minha alma.
Agora me sento, relaxo e morro para o mundo
Existir me toma tempo, pecados, crimes, me toma
Agora irei me deitar, sem me lavar
Quero o cheiro dos lugares, das pessoas
Vou acender um cigarro, como se eu nunca tivesse me ausentado.
Permita-me.
Eu sabia o que era felicidade ela tinha gosto de café quente, dia frio,
Tinha cheiro de terra molhada, tinha rosto de vida, cor de água, era pura.
Mas depois dela eu não sabia o que viria, e se eu não gosta-se do depois
E se o depois fosse o fim ?
Permiti-me a felicidade, mas moderando-a para que o fim não chega-se
Me permiti ser triste, para que a felicidade em mim dura-se.
O meu.
Eu não poderia amar o mundo
Ainda não me conhecia, não sabia meus medos
Não havia cometido crimes, sido algo ou alguém
Eu não poderia me amar, por que de tanto eu nada ser eu era o mundo, o meu.
Te deixei ir, você foi lenta, leve, com meus cigarros na mão
Inquilino !
Passo por um conflito. O de amar.
Como posso amar ? Amar alguém ?
Preciso antes tirar as teias do teto.
Me decifrar, roubar-me de outro alguém
Depois preciso limpar o quarto, arrumar a cama
Para quem for me visitar. Preciso me permitir visitas;
Visitas em minha casa, em meu corpo
Mas em meu coração quero inquilinos
Para me avisar do feijão queimando no fogo
Brigar pelas calcinhas fora do lugar, pelos cigarros no sofá
Brigar para depois dizer que é tudo porque me ama
Preciso que alguém grite, explique
Preciso que alguém me obrigue a aceitar esse amor
Esse amor que é meu, mas não o vejo, não o sinto
Preciso que alguém lute por mim.
Preciso de alguém.
Quem ? Qualquer um que goste de doces.
Gosto das palavras, daquela noite, do seu cabelo curto
Corri-mão.
Eu gosto de escadas. Aquelas compridas, com cor, com vida.
Gosto de percorre-lá, de ultrapassa-lá empurrando meus pés para subir cada
Degrau,Degrau,Degrau.
Escadas me lembram amor, aquelas duras, difícil de alcançar o final
Mesmo quando o fim é o terceiro degrau.
Alguém compreende meu amor por escadas ?
A forma fria e maciça que sinto ao subi-lá descalça, de meias finas
Falo de escadas de madeira.
Falo também que temos que subir degrau por degrau
Correndo ou devagar para não cair e se machucar no final
Com perigo de descer escada a baixo, empurrando tudo a sua frente
Falo também que pode se apoiar quando não se sentir seguro
Segure o corri-mão
Estávamos falando de escadas ou de amor ?
Eu gosto de escadas. Sempre gostei.
Goteira
As palavras elas me caem entre os dedos. Me somem.
Agora como de relance atrás do vidro, vejo cair a chuva, vejo o fim do sol. ele me vê.
Retorno pra casa, seca sem nenhuma gota. Me parece que foi sonho aquela magia de mar
Me deito, olho pra janela ainda sem acreditar, sem som. Me some o som.
Acordo com os punhos fechados, uma lágrima no travesseiro, era uma goteira.
Dentro e fora de mim.
Agora não me recordo se a chuva era eu ou mesmo o céu
Choveu em mim, mil lágrimas de mar, salgadas, secando por dentro algo
Mas tudo aquilo era sinal de loucura, porque em nada naquele choro me trazia tristeza
DOR! DOR! o que será mesmo você ? em qual lágrima fui sua ?
Agora me relembro da chuva de como fui feliz em apenas olha-lá
Em apenas deseja-lá, poder senti-lá de longe, ver sua estrada perturbando minha alma
A chuva não era eu, apenas fazia parte de mim, mas vivia fora com corpo e pele
Lindo como se nada mais me pudesse fazer respirar.
Mas é a pura verdade toda chuva precisa de um ar, todo ar precisa de uma chuva ?!
Creio, e enfim me lembro do motivo da lágrima, das gotas de mar, salgadas
Me lembro de te ver chuva, me lembro de te amar como nunca antes tenha amado.
Agora sei porque a tanto não consigo transformar esse amor em palavras. flori-lá!
Agora entendo o motivo. Agora sei, sei e não posso explicar
Tenho cabelos, sonhos, plantas e uma vida para regar.
Mas quero a chuva que clara tem só o nome.
Clara!
- Ouvindo: Los Hermanos.
Tarde de Mais
- Você pode me sentir ? tocar sem estragar a seda ?
Pode realmente entender porque chorei, porque ainda choro ?
Pode me segurar nos braços mesmo sendo menor do que eu ?
Me carregar mesmo estando cansada ? Me trazer ar ?
Pode tentar sufocar essa dor apenas me dando a mão,
Correndo quando eu te chamar ?
Pode compreender porque meu corpo se
curvou
Minha fala era alta, triste e arrogante,até mesmo quando o
assunto é amor ?
Você pode compreende meu pesar ? ( pesando algo frio e
morno nas mãos)
(...)
Então ? Agora poderá me amar, mesmo quando nem eu ainda sei o que é isso ?
________________________________________________________________
Escrevi para a minha amiga Gabrielle jurando nunca postar aqui; tarde de mais.
Rascunho salvo em 04:50
Sonambula, míope, surda
Mas de alguma maneira estou satisfeita
Em não enxergar a dor, em não ouvi-lá, em apenas carrega-lá
Quando o amor se cansa de mim.
Rascunho salvo em 10:43
Eu queria te ter nos braços, te levar pra casa
Ouvir você dizer besteiras, me fazer rir.
Eu precisava do seu colo, dos seus seios, beijos
Da nossa despedida curta de um cómodo para outro
Do nosso amor, daquela bobagem de amar
Eu precisava realmente voltar a ser boba por você
Mas agora a minha arrogância me parece mas segura.
Eu preciso da sua vida
- Eu preciso de vida!
Meu amor...
Nosso amor, vazio
Sua pele na falta da minha
Minha vida errante, vulgar, sozinha.
Eu longe de você
Você sem me ter
Eu sem você
Querendo me reconhecer.
Subtenda.
Quero que alguém me compreenda
Me leia, sem me decifrar
Não consigo suportar esse peso de ser eu mesma
Me doí as costas, o coração, me doí as mãos
Não quero ter uma pele, nem rosto
Não gosto de cabelos, apenas de olhos, bocas
Não chego ao entendimento, do que sou, se sou, se fui
E me doí regressar as palavras, me doí, morrer e acordar
Você pode sentir meu entendimento
Pode toca-lo, trazei-me
Eu tenho essa dor constante, essa dor que não doí
Ela apenas bate no chão, e me prende
Com o impacto me joga, me desmonta com força
Sou fraca em não depender dos outros
Mas mesmo sem introdução eu preciso
Necessito de um desconhecido, apenas para me oferecer um cigarro
Me apoiar e ir dormir
Sou além da forma ultrapassada do meu corpo
E me conheço tanto, que me perco
Foge sobre meus olhos a minha vida
Que me doí, como uma xícara vazia
Não me percebo, caminhar, acordar
Apenas vivo quando adormeço
Durmo quando acordada estou
E me pesa a realidade
Não quero ser eu, não quero existir
Quando se existi se perde
Como agua vazando do balde
Se perde loucura
Não preciso acreditar ser normal
Preciso apenas me habitar
Me resgatar quando estiver cansada
Tenho sede de liberdade
Daquela que se senti apenas quando o vento te sufoca os cabelos
Preciso me sentir livre, me libertar de mim mesma
Ninguém realmente me prende, eu sou a minha única maldição
Tenho o domínio sobre meus pés e me frustra não coloca-los a onde a alma chama
Quero tocar-me por dentro, rasgar essa pele
Quebrar os ossos e me libertar me do mundo
Me tornar livre, da fome, da sede, do amor, da dor, da vida
Não quero ser descartada, mas quero reaproveitar-me quando necessário for
Necessito de escamas, sobre e fora de mim
Necessito de formas, de pouca existência e a quantidade errada de loucura
Não necessito mais me entender, apenas parar um pouco esse meu ser
Deixar subentendido a loucura de viver.
- Ouvindo: Incubus.
Procura-se sentimentos
Me falta um amor, como me falta alguma dor
Não gosto de sofrer, mas meus cabelos as vezes precisam de aguá
Quero misturar a falta, a desgraça
Quero dividir meus cigarros, quero alguém
Alguém sem graça, sem animação, com falta
Que goste da terra, de sexo, de frio
Sente aqui, me escute
Sussurre, depois me grite, até trazer dor aos meus ouvidos
Depois me conte versos, me xingue, me jogue na cama sem pretensão
Me traga falta, humildade, me derreta, me faça chorar
Me ponha nomes, aqueles que não sejam vazios
Me traga vinhos, me ame
Depois do fim, pode partir
Quando a mim voltar, quando aqui passar
Me traga algo que caiba na caixa
Que as vezes é conhecida como coração.
- Ouvindo: Los Hermanos.
Se sou.
Rabisquei a vida, estraguei o desenho que havia traçado
Cheio de cores, vidas, amores, dores, bonitas dores
Acabei mudando os traços, modificando a cor, a volta, a partida
Me perdi em meio a tanta rasura, da minha vida da sua
Tentei apagar procurando um novo eu, um outro, um seu
Mas agora me esquece quem sou, e se sou, quem sou ?
Me desperdicei em cores, amores, me rasurei
Posso estar me afundando, mas nada me tira esse remorso.
Esse esboço que não sou eu.
Do outro de cá
Não gosto daqui, nem de lá, do outro de cá
Constante falta de mim
Foi quando ele partiu...
Doce-Mente.
Parei, suspirei, ainda em movimento.
Devo esvaziar-me.
Lama
Surrada
Uma outra carta.
Chorei, chorei, chorei !
A constante perda que me destrói é a de vidas
'' O vôo da pedra ''
Para ser lido ouvindo Incubus - Drive.
Poeira
Sendo eu minha própria vizinha !
Meus sonhos me enganam !
Uma carta pra dizer adeus !
Consolide !
Sobe e Desce !
Dois de uma Tragédia !
A cada madrugada abafada por cigarros e suor, ardor, suor, amor
Consumo Estabelecido !
Precisa-se de uma garantia de consumo pré estabelecida
Então é capaz de amar!
Ana não desapareça
Ana não me deixe, volte !
Embriaga-se
Sendo meu Próprio Hospede!
Desafina!
Falta menina me deixe, me esqueça a onde estiver
Túnica de Inverno!
Me parecia uma vespa em cima em baixo pra dentro pra fora
Apaga o cigarro inconformismo ? lll
Abri os olhos realmente atordoada
A caixa agora agitada insistia em me deixar calada
Com o movimento de uma mosca parada, pobre da caixa
Enfeitava-se, se redobrava para mostrar aos outros por fora
O que por dentro nada cabia, nada tinha
A caixa parada agora servia como deposito de coisas velhas
Seguindo o ritmo correto de nostalgia
Agora nela só cabia o que fosse velho, e de bom trato
Era realmente engraçado ver a caixa encurralada dentro de um monte de passado.
A caixa como coração suava para tentar dar-me proteção
Jogando-me de um canto para o outro, sem parada pro almoço
Caminho sem gosto, rosto ou esboço
Parava realmente para se alto afirmar, dizendo o que pouco se servia por lá
Era preciso conservar a caixa que andava velha e muito maltratada
Queria segurar o vento, dentro e fora de si, para confortar o tal do lamento
Que rosnava, sempre que a dor por ali passava.
A montanha de velharia só trazia mais agonia, desmotivada pela autonomia
Era grande a nostalgia...
Quando se tratava da caixa, fria ficava a alma
A minha, num eu lírico de um contesto pouco real
Parecia anormal, falar do coração sem pensar numa caixa triste cheia de solidão
Então nada havia de ser coração, caixa era mais exato se afirmar
Que mal dizia nada cabia por lá.
A caixa como deposito de nostalgia, era míope ao presente que não vivia
Parada no movimento exato, entre curvas retas e monótonas
Era estranho imaginar, que a caixa decidia o que em mim poderia habitar
Se nada habitava a caixa feliz assim ficava.
Cismava em voltar ao passado, me tirando as rugas de experiência
Rugas novas e pouco vistas, agonia, agonia, agonia
Num relapso de nostalgia insana a caixa vivia
Deixando fluir o que a muito havia passado...
Envelhecendo se viu obrigada a jogar tudo fora
Agora nem mais me lembro o que tanto trouxe de volta
Só o tempo que nada dentro habitava
A caixa de certo nada gostava
Então nada havia de ser, dor era a unica coisa que cabia na caixa.
Foda-se
Passo largo, pequeno espaço feito no teto de vidro
Vozes secas, rogando no umbigo pragas penitenciadas
Fome de calma, odeio de tudo, fora e em cima do muro
Falar do teto que não quebrou por pouco, muito pouco
Gritou no meu ouvido sobre a dor, pouco me importa a dor.
Bons modos cegos, microfone meia tática para ser ouvida
Raiva, raiva, raiva, me mandaram calar, calei.
Gritei mais alto, depois do salto, de uma vida pra outra
No corpo de outra pessoa, chamada arrogância
De óculos escuros por fora do muro
Se tornou egoísta, egocentrismo
Meu nome é arrogância, cheia de ignorância
De baixo de um feto no peito que cresceu
Calmo, forte e insolente, calmo, forte e sonolento
Nunca fui boa em ser gentil.
Dor de Dente.
O grito é seco, ralo, fraco, chato
Barulho de panela roçando o fundo do chão
Arranhada de gritos em uma sala sem cama nem colchão
Sabedoria terminada em dor, falta de cigarros, esqueça o elevador
Descemos de escada, para emagrecer o tédio a raiva
Míope inútil mal posso esperar o vôo, pular do prédio ou do Cristo redentor
É o fim, o grito rouco sem som, perturba o meu portão chamando meu nome
Loucura sana, perfeita e concreta, parede, parede, cabeça na parede
Agonia de plateia mórbida, palmas seguidas e cabeças idiotas
Gritar, gritar, gritar, raiva, odeio, dor, esqueça vou procurar o doutor
Remédio pra loucura é o mesmo que pra dor de dente ?
Enrolar uma corda no pescoço, arrancar o dente e a vida
Corda flácida, mal sabe acabar com o tédio, me joga no inferno
O vicio falou mais alto, vento, vendo guardanapos
Para lágrimas, babas, continuações sem continuar
Nada para, nem a dor ou a agonia, roçar de panela no chão
Falta de cigarro, olfato, vida, maioritária vida
Vidro quebrado, dedo cortado, dente arrancado, grito calado
Me traga álcool e limão, para sarar o dente, o dedo e o meu coração...
- Ouvindo: The Distillers.
Mundo tão seu.
Atravessava a rua seca, sem destino presente
Olhos baixos sem qualquer movimentação, ali, aqui, sem direção
Talvez ela tivesse voltado para ficar, decidiu ir embora mas gostava de lá
Lembrava-se da avó que sempre doce a comprava pamonha na esquina
Arrastando os pés, fracos e cansados de uma longa vida.
Subiu as escadas do andar de cima do prédio velho e sujo
Entrou no apartamento, pegou suas coisas, poucas coisas
Jogou tudo numa mala velha com as cores de cuba
Olhou para os lados se despedindo do seu pequeno apartamento
Com cheiro de cigarro e roupa velha, era o seu lugar preferido
Sentou-se na cama deixando os olhos distraídos se elevarem a pensamentos
Ela havia vivido uma vida ali, duas, três, uma eternidade de sonhos
Se levantou e como desculpa, chorou até descer as escadas.
A dor era estranha, batendo no peito e sumindo, fugindo
Sua liberdade ficara naquele quarto e sala, naquele mundo tão seu
Acendeu um cigarro para soltar melhor as palavras quando decidiu ligar para os pais
Dizendo quase sem voz que ia voltar para casa, que ia deixar sua casa
Tão longe ela pensava, tão longe...
Quando enfim não via mais o prédio a onde morava pode chorar sem qualquer receio.
Agonia, agonia, agonia, agonia
Agora era apagar o cigarro e fingir ou apenas assumir que na casa dos pais também era feliz...
- Ouvindo: Pata de elefante.
Uma Violência Surda.
Falava-me baixo com uma violência surda
Com medo do receio de me machucar, machucando-me apenas ao falar
- Eu me contenho em não ser amada por todos. - Ela me dizia quase sem voz de mãos fechadas.
Me parecia grosseiro esse amor, que machucava fundo uma ferida quase imortal, serena e constante
O silêncio crescia na sala como um balão que se enchesse quase sem fazer barulho sem poder ser interrompido
Mas sim fora isso que buscará um silêncio continuo entre ambas, entre ambos corações. Que eram caixas vazias e plácidas.
Um tom decorria subjacente, era o barulho do fósforo fazendo fogo para acender o cigarro culpado de dor da falta de amor, quebrando assim o silêncio, estourando de vez o balão.
Ajoelhada junto de mim, ela me olhava seca e fraca, mastigando de tragada em tragada o sincero que era comprado na esquina, e de sincero não havia nada.
Antes de compreender o que ela queria eu me pus a falar sobre todo aquele remorso da dor de amar
Ela apenas me escutava com olhos vazios quase inertes e que ali não viviam, discordava apenas com o rosto que retorcia-se ao dizer não.
Desviava os olhos subitamente ferida no mais abria seu coração dizendo-me o que em mim nada fazia sentido
As gotas escorriam trémulas, eu enfim descobri que minha caixa era fria, friamente egoísta...
A voz suave roca e morta, quando realmente falava o que em mim habitava, quase nada. Vazio.
Ela compreendia, confirmava com os olhos baixos, agarrando-se a qualquer coisa, agarrando-me.
No intervalo o amor tornava-se a si mesmo, fugindo.
Ela corria com os olhos verdes claros que entre manchas de água se tornavam mar de agua salgada
Salgando a boca que no impulso beijei, Fechava os olhos e o coração batia além do meu corpo que me doía todo, sem mais nem menos eu descobri que toda essa dor era de certo alguma forma de amor.
- Ouvindo: Pata de Elefante.
Míope.
A relutância míope não tão cega, pouco vista.
Aparentemente organizada na fila do pão, entre eu, meus olhos e o mundo.
Entre linhas cegas e surdas, faladas e escritas.
Embasam a pouca nitidez que tenho da realidade
Que adormece embriagada retraindo sons, falsos altos.
Adormeço sem saber se ali estou, viva-morta, tédio cego. Reto, quase infinito.
Percebo que tão pouco morta-viva, apenas existindo.Resistindo.
Paradoxado, plural sem dois ou três, singular só, cega.
Míope em guerra, repassando imagens em tela branca.
No teto submerso da loucura tão nítida e minha, sua...
Mastigando a tira gosto com tédio, realidade quase perto do inferno
Resto, reto no teto submerso.
Loucura que se deita e acorda do meu lado
Despertando-me, cegando-me para a realidade.
Que sufoca e destrói meus sonhos de autonomia
Vida vazia, pouco altruísta e boçal. Banal!
Paro, repasso, paro, repasso, paro...
Automático percebo que existo, cansadamente egoistamente.
- Ouvindo: Pata de Elefante.
Inferno cómico de teto pro chão.
''Corria em direção ao chão, do teto no inferno
Machucava as mãos segurando a caixa chamada coração
Sem saída, sem caminho, pra lá, pra cá
Era um sonho, uma realidade, grande fatalidade
Eu não sentia minhas pernas, nem meu corpo no chão, jogado, molhado quase morto
A voz não saia, nada se movia apenas meus olhos cegos
Meus ouvidos surdos, barulhos mudos, gemidos sóbrios de sexo
Nada me tocava, nada se sentia, areia molhada, cansada e velha
Na boca gosto de suor, a pele rugia no teto ou no chão do inferno
Quente, Forte e de alguma forma cómico
Corpos na apologia do sexo, o céus eu estava no inferno.
Eu não tinha cabelo, nem roupa, nem vida, nem alma, nem tato, olfato
Rastejava no chão quente, talvez fosse frio meu corpo era um ponto vazio no espaço
Espaço que não cabia, tanta falta de vida jogada por lá
Não tínhamos rostos, nem cor apenas peitos, olhos e paladar
Tudo tinha gosto de suor
A terra era santuário de roupa com mãos dadas pro ar
O inferno era cómico, muito engraçado, vulgar.
Gritavam meu nome, a rainha damacascar
Éramos Reis, príncipes e servos, todos tristes e preços no inferno
A dor era parte do corpo, morto, vazio do sufoco
O passado passava em uma grande tela no chão da parede do teto
A carne pendurada nós pés que eram mãos que ficavam perto do coração
Não se saia mas sempre se entrava no inferno cómico e sem graça.
Era sonho, sonho dos ruins... Acordei de mão fechada
Rindo perdidamente, achando graça
Eu ainda tinha vida, melhor tinha alma
Acendi meu cigarro para comemorar a volta de uma viagem não programada
Que me corria nós olhos abismados e carregados, vazios, vagos
O inferno era cómico mas no final não era nada engraçado''.
- Ouvindo: Pata de Elefante.
Verso-Vise-Versa.
Quadrado, redondo perdi no tombo
Daquele amor que o doutor falou, me avisou era sincero, fora do sério
Eu acreditei só eu ninguém mais, você partiu me diluiu
Eu chorei amarga-mente, gritei quase saindo do corpo sem som, sem voz, sem nós
Do nó, do cego, sem verbo, doeu, doeu, doeu, de mais pra mim...
Mal organizado, fora do salto do tombo alto, muito alto
Perdi o chão, você partiu levou meu tom, meu violão
Agora cega sem coração, eu mereci a dor-desilusão
De um mundo todo, sem sábado nem hora pro almoço
Trabalho forçado de joelho machucado, você partiu sem regresso nem olhos pro teto
Vise-versa meia conversa, no banco me disse adeus. - Adeus meu bem! Adeus...
Era de menos, de mais, de tudo, hora atrás.
O verso do vise-verso ficou calado, sem meio papo, falta de abraço
Saudades suas, se te conheço ou se apenas vi, ali, lá, do outro, de cá
Correndo pra alcançar o ónibus, cheia de livros alguns conhecidos outros nem lembro o nome
Era de fato, de meio prato eu te comia com os olhos mortos
A tua beleza sem realeza, você sem nome-sobre-nome.Ana, Lunar, Amanda, Vanda, Luana
Me parecia que era minha apenas minha, me disse adeus sem ao menos se apresentar
Depois do tombo, errei o ónibus e te encontrei em outro lugar...
Destino traçado, azarado, cupido culpado
Depois sumiu, eu, ela, sem meio papo, cego e de joelho machucado
Perdão por não me apresentar.
- Ouvindo: Pata de Elefante.
Vista nua.
O engraço do medo dos outros é não encontrar em você o que eles não possuem, sonho bobo.
O amor não passa do reflexo dos olhos de um outro.
Eu realmente me canso tentando agradar, não manipular ou no máximo não rir e xingar
Uma meia população que tem a graça de me incomodar. Difícil ? Tenha apenas vícios.
Eu parei, cansei, até arrogante fiquei, pra meios termos tenho dois dedos
Incoerência no momento êxtase do meu calor, amar. Amar. Amar.
Merda eu não gosto de amar, depois do fim é dor.Dor. Dor. Dor.
Nem o doutor resolve, ou almoço de sincero sem elevador.
Autonomia regressiva se sentindo feliz em contado com o outro
No ónibus lotado, na fila do pão, na hora de pagar as contas
Não senhor, esse contado nem mesmo faz carão
Eu falo do contado de pele nua, nua com roupa pouca ou nenhuma
Vista nua, de dois de um outro
A primeira vista, na outra não exista
A forma mais fácil de amar, sem cobranças ou culpas.
Amor de um dia, também é amor.
Apaga o Cigarro Inconformismo ? II
Calava-se encobrindo algum ser ainda não inabitável em si mesma
Comparando sua caixa velha com um freezer mal ocupado
Sem espaço, mal organizado, meio vulgarizado
A caixa que agora estava em recomposição, estava ocupada, tumultuada
De promessas velhas, amores antigos, dores novas, velhas, novas eram as mesmas
Todo esse espaço agora ocupado tinha um por que a falta da frieza que morava ao lado
Lhe trazendo sempre uma lágrima e um adeus solitário.
Matutava os pés, o corpo de encontro a parede molhada e suja
Deixava a hora flutuar sem ao menos existir ali naquele lugar
De tudo que ela fazia, nada adiantava a caixa continuava vazia
Por mais que ela queria a caixa ainda a dominava
Não serviu de lição joga-lá contra o fogo
O fogo de nada adiantou, sem sentimentos bobos
Sem meias furadas, nada de calor no corpo ou amores loucos
Tudo passava rápido, nada tinha importância, nada tem importância
Ela não é mais criança, mesmo quando vai ver a avó no Goiás
Sabe que o tempo não volta atrás
A comparação continuava sempre se tratando sobre a caixa
Que cabia de tudo, mas de nada gostava.
A caixa apenas pulsava pra mostrar que ela a dominava
Pra dizer se não, pra dizer que sim sem nenhuma organização
Ela jogava a caixa de um lado pro outro.. para mão de desconhecidos
Ou de amigos bobos, a caixa até que gostava, gozava, mas pra caixa isso não a animava.
A caixa não era talvez tão freezer, essa comparação não a valorizava
Ela talvez amava ou era a caixa que a manipulava
A caixa servia como contra mão, apoiando-a dando proteção
De coração ela não tinha mais nada, agora ela servia como aliada
A caixa dentro dela, e ela fora da caixa
A caixa tinha seus pertences que na caixa eram guardados com maior cuidado
Os pertences só serviam se no reflexo a encontravam
Não tinha esforço ou outro meio gosto, não se gosta de ninguém que te devolva o oposto
Entre certo ou errado tão pouco importava de nada cabia na caixa
Filha de uma puta mal organizada
Nem oposto ou verdade, coisa mal falada
Tinha-se uma lista, de apoiar-se, amar-se, adorar-se, apaixonar-se, odiar-se
Nessa ordem de trás pra frente do espelho, melhor que ser Orfeu, melhor que dor de dente
Ela e a caixa eram sempre aliadas, mas a culpada da dor sempre era a caixa
A caixa servia como contra mão, apoiando-se dando proteção
De coração ela não tinha mais nada, agora ela servia como aliada
Já que a caixa não era a única que de nada gostava.
- Ouvindo: Moveis Coloniais de Acaju- Aluga-se-vende-moveis coloniais de acaju.
Ter sono cansa, viver cansa mais ainda.
''Tenho tanto sentimento, que finjo não sentir
Para disfarçar a dor de que tudo isso é ilusão
Mais reconheço que não me conheço pois despertei
Sem nexo ou principio para um nova noite de sono.
No mal estar em que me vejo
As vezes minto pra mim mesmo
Mais eu a mal dormida, não tenho noite nem dia
Nem sinto falta ou vida, apenas acho graça
Da pobre vida vazia...
Deixei as unhas crescer
Com a des(culpa) de que assim sofro menos
Indefinido e vão o dia chega
Sem permissão invade, os olhos mal abertos pela miragem
Me tratando como um vizinho enganador
Pegando as ultimas horas de sono que tenho
Pra depois que a noite voltar eu recomeça do fim
Sem sono, sem sono, sem sono, sem sonho.
Se existe, existe demoradamente
A vida não passa de uma estrada grande e tumultuada
Coberta por vícios, e noites de dia
Achando bom ver que eu ainda continuo vazia.
Me de mais bebida, pois a vida é nada.''
Fermento Podre e Vencido
É neste momento de fermento e graça
Que ignoro a existência, apalpando as mãos vazias no chão
Apagando o cigarro com os pés, atirando me na cama, cansada insônia.
Eu devia ter alguma proteção, um espaço vital entre o que existe e o que me faz mal
Você, sua mania chata de estar sempre certa, o idiotismo de tudo estar bem, pior pior
A conseqüência de nada acontecer
Devia ter uma barreira fechada de vidro tampando meu corpo e protegendo meu rosto
Contra todo esse pensamento bom e otimista, eufórico e correto. Uma farsa.
A existência me joga na cara que sou má, fria
Ela me diz coçando o saco que irei perder, morrer, pior viver
Autonomia filha de uma puta organizada, me erguendo toda manhã pra esperar o ônibus na calçada cansada
Levo na bolsa vazia e pesada à existência, largando de ponto em ponto um pouco da minha vida, longa, longa, longa e perto do fim.
Depois de horas de conversa, explicando o que ali fui fazer decide me aposentar
E deixar de viver, existindo só para mim, como sempre foi, como deve ser
Não me culpo por pensar em mim, de não gostar do calor, de elevador
Muito menos pela autocrítica que me penteia e me escova os dentes
Me arrumando, me erguendo, para mais uma existência cansativa e sem volta
E acabo conformando me que desperdiço o existir tão pouco usado por aqui
Sem trelas, arrependimentos ou meias furadas
Eu me prendo dentro e fora de mim, sufocando. Desespero infinito
E neste momento de fermento e graça que me despeço
Existindo,
Esqueça vou fumar um cigarro
- Ouvindo: Chico Buarque- Cotidiano.
Peitos, amor de namorados
Eu me acostumei, acabei, rejeitei
Eu deixei rolar, me perdi,nem mais quis
Era frio, lá fora, aqui dentro, dentro do corpo da alma do meu tormento
Eu deixei, errei, não acertei nem me importei
Minha autonomia foi falar um inglês, ler um livro e gostar de café as 6:00
Esqueceu da hora, te deixei no altar, no altar em frente ao bar
Foi divertido, eu gostei, me surpreendi mas acabou. Nem começou.
Matutei o horário, cansei o violão em plena madrugada nua com coberto na mão
Eu sabia que era errado, era pecado, mas o gosto era algo saudável
Eu me lembro do seu cheiro de menina livre e doce
Banal, essa coisa meio sentimental, ridículo e ordinário não amar nem meu quintal
Erro meu, seu, nosso. Culpa de opostos.
Não doe mais, nem sei se doeu, seu sentimento bobo não se juntou aos meus
Sou fraca, realmente sou por não aprender a amar nem gostar de elevador
Eu me acostumei, desacostumei a pegar a fila sem café das 6:00
Sem você, sem cigarros, sem peitos ou amor de namorados
Eu me acostumei, o pior é que nunca me importei.
- Ouvindo: Pata de elefante- Versão final.
O eu egóista, num movimento parado.
Sou egoísta por que desconheço outra forma de viver.
Custa me saber que ainda é cedo
Para arrumar minhas malas e levar comigo todo o poder
Da minha vida, o poder que a pouco foi me tirado
E não me importo com os dias dos outros
As horas que não foram, ou viram... E se acabaram
Misturando se numa sombra de sonhar
Um sonho que é só meu, num mundo só meu.Destruído.
Sinto me cômoda, ao vulto da minha voz
No reflexo do meu mundo destruído, talvez por mim mesmo
Já que todo esse egoísmo me força a pensar nos outros
Só para o meu bem, e não a nada que eu não faça
Para o meu bem...- E dou-me por satisfeito!
E carrego me pelos corredores da cidade
Isolado e sozinho, já que assim mesmo eu quis,
Eu poderia escolher qualquer mundo
Mas decidi viver no meu, frio e solitário
E me magoa pensar, que sofro sozinho.
E por fim tenho sono,
Porque na verdade não sou egoísta, mas triste.
- Ouvindo: Pata de elefante.
Cabeça de Orfeu
Abro os olhos e penso...
Será que há algo em comum nas vivências daqueles que se deparam com sua própria morte?
Mesmo agora com o corpo inerte tomados pelo fatídico acontecimento, em minha mente há muito movimento
Penso então por flashes
Será que percorremos toda nossa memória em apenas um minuto?
Como pode naquele minuto tudo fazer sentido?
Ainda na busca pela total compreensão dos fatos, há uma combinação quase que imperceptível entre imaginação e memória. Não sei bem se a palavra correta é combinação, talvez haja uma mistura entre esses dois funcionamentos da mente.
Mas o interessante é que dessa mistura surge o onírico, criando um nexo para as lacunas da razão.
Cynthia Domenico *
Evidente.
Andei matutando os pés
Nunca gostei de autonomia
Me sinto fraca gostando de andar sozinha
Mas a culpa é sua garota por nunca entender o que escrevo
Seria fácil agradar se você não comparasse minhas palavras com esterco
Passei em uma loja cara de moveis, achei bonita a cama
Lembrei de você dizendo que me ama
A cama era bonita, mas você não merece uma cama nova
Nem uma chance, nem uma volta
Compreendeu que a multidão dos meus pesares te ignoram
Aqui, ali, do lado de lá, do lado de cá
Agonia, agonia
- Ouvindo: Pata de elefante.
Pique-Esconde
A morte me parece uma brincadeira boba de pique-esconde.
Da qual nunca sinto jogar, se ao menos nela eu confiasse lhe daria a mão para me levar,
Mas a traição de me tirar a vida me parece imperdoável, e o perdão pra mim é para os mal informados por que no fundo somos todos fracos.
Se tento me esconder me sinto infeliz por parar de viver
Se vivo me sinto alegre por não querer morrer
O tempo vem e me joga na cara que a morte fica do lado de lá da calçada
Filho de uma puta ingrato, sempre o utilizo sem pedir nenhum compromisso
O deixando flertar sem avisos ou horários pra voltar
Ele me joga de um lado pro outro
Na insónia
No ponto de ónibus
Nos compromissos
No amor
A constante perseguição de passos, tons, sobre tons
Me vejo em plena madrugada contanto o tempo, a hora e a chegada
Que não chega que para na porta da frente de casa
Se o tempo me trazer a morte talvez seja a hora do tempo parar...
- Ouvindo: Cazuza- O tempo não para.
Morno, Quente, Frio, Morno, Morno.
Se decida antes que eu decida por você.
Compreenda que a sua multidão de pedidos de carinhos é pela falta de opinião
Sua altura ridícula em cima do muro, sempre em cima do muro
Sempre morna, calada com escudos...
Eu devia lhe dizer que o seu pessimismo pouco me importa
E se isso ocorre é por que me importa o que você deve dizer, mas não diz.
Sorriso largo, para qualquer um, para todos
A falta inoportuna de não incomodar nem que seja para se acomodar
Acomodando-se, hipócrita e fraca.
Você prefere se acolher no silencio
Se tornando mais um, mais um boneco de papel reciclado...
- Ouvindo: Moveis Coloniais de Acaju.
Sem Hora Nem Precisão
Sentado olhando pro tempo, esperava alguém com lamento
O relógio no braço esquerdo era sempre segurado como uma faca dentro do peito
Parecia realmente se importar com a sujeira que fazia por lá
Na carreira de cigarros se via a dor do homem que esperava a morte com flores e festa de chegada
Ele acendia mais um cigarro, ligava pra alguém falava do horário
Parecia insuportável o ponto que ele chegava de chorar baixinho sem lágrimas nem olhos baixos pra calçada
Se o tempo passava sentia um grande receio de saber que ali pra depois talvez não teria mas jeito, a solução era esperar com as flores na mão e o telefone a tocar
Sem hora nem precisão
As flores pareciam mais murchas na medida que o tempo passava
E com elas os olhos do homem agora caia na calçada
Que quente se mantinha em pé sem lágrimas nem meias palavras
Seu corpo suava, sua voz nem se escutava. Falava baixo como se algo parecesse ter algum pecado, Deixando assim o calor mostrar que o corpo se mantinha em pé pelo amor que sentia por quem esperava
O pé batia na calçada quente, as mãos casavam, os olhos já choravam
A dor persistia forte no homem grande e gordo, que tinha um rosto velho e um olhar meio morto
Ele se levantou, pegou as flores, jogou o cigarro no chão olhando para alguma direção
Nada ele via, enxugava os olhos sem ter nenhuma reação
As lágrimas agora caiam direto no calçadão
Já não era mais dia, o calor havia ido embora mas ali mesmo o homem persistia
Esperando pela chegada de alguém que não viria
O homem gordo ficou ali com as flores murchas na mão esperando por alguém
Sem saber se queria isso ou não.
- Ouvindo: Cazuza- Solidão que nada.
Apaga o cigarro inconformismo ?
Acende e espalha a fumaça, depois preenche o que falta numa caixa
Tão pouco vazia, tão pouco lhe faltava espaço
A caixa se enche sem caber mais nada, empurra empurra até que a caixa se rasga
Cola os contos, as partes de baixo tenta fazer com que nada espalhe, saia do espaço
Machuca o dedo com algo que se tem no fundo, se irrita, desgraça a vida.
O cigarro apaga com o vento, o acende de novo
A caixa se rasga, espalha o que tanto ela queria guardado
Joga tudo no chão e joga a caixa no fogo
Se senta, coloca na mesa tudo o que na caixa nada cabia
Sem que a caixa se rasgasse todinha, queria realmente espaço
A caixa na verdade pulsava queimando no fogo, queimava sem nenhum esforço
As paredes que impedia o vento estavam pretas por fora e por dentro
A caixa não servia pra nada, servia só pra machucar o corpo
Com tanto peso e tanto esforço
Nada nela cabia, de tudo ela queria colocar mas a caixa de nada queria
Tentava guardar o mundo na caixa até amores sem graça
Mas a caixa filha de uma puta exigente, se sentia no direito de mandar na vida
Ela aceitava, com o peso da dor que a caixa fazia
A caixa servia como coração, a caixa seria o coração
Queimava, esquecendo assim a dor que ela deixava
O espaço continuo, a caixa toda se queimou
A caixa agora queimada tinha as paredes, o fundo e o chão
Que parecia seguir a mesma proporção
Levantou-se pegando a caixa agora machucada querendo guardar o que nela não se guardava
Acendeu o que seria o ultimo cigarro. Inconformismo pela falta de espaço.
O fogo que queimou a caixa de nada adiantou, a caixa continuou fria e sem espaço pro amor
Ela nada mais queria sentir, então de vez de jogar a caixa de novo no fogo
Jogou o mundo e todo o sentimento bobo.
A caixa servia como coração, a caixa seria o coração
Sem espaço e quase sempre com solidão.
- Ouvindo: Pata de Elefante.
Play!
Ela se deitou no meu ombro e caia sobre mim gotas leves de dor
Eu não sabia o que falar, o que fazer apenas a abraçava e tentava lhe confortar
Ela chorava com o corpo o jogando de um lado pro outro, levantava os olhos de encontro aos meus, chorava me pedindo desculpas, perdão, blasfemava dizendo que o senhor, o senhor grandioso, o rei dos bons era o culpado, o senhor era o culpado por não ter me dado um coração, dizia até que o grande rei gostava de lhe ver chorar e tão pouco mexia os olhos pra lhe ajudar.
Eu não sabia o que falar, não sabia o que fazer apenas tentava lhe confortar com um beijo na testa.
Ela se remexia, me mordia deixando marcas de dentes, se contorcia se afastando de mim.
- O senhor, o rei, o puro, devia ao menos ter lhe dado um coração. Deixa por crer que de agora em diante não acredito no amor, nem nele o senhor grande fodão.
Se levantou se afastando de mim,seguindo em direção a cozinha,procurou na geladeira, no armário até no fogão, quando não encontrou o que procurava, deu um grito dizendo que ali não tinha merda nenhuma, nem um pouco de álcool pra curar a dor do coração, insatisfeita pegou um copo com aguá, voltou pra sala abandonando o copo ainda na cozinha sem beber.
Sentou-se do meu lado chorando, inconformada lhe pedi perdão sem saber se era isso o que eu queria dizer ou não.
- É só isso que tem a me falar ... ?
Eu não sabia o que fazer, o que dizer, acendi um cigarro e abaixei a cabeça.
Ela esperou uma resposta, um gesto meu, mas nada eu fiz.
Me abraçou e depois de tanto tempo ela ainda conseguia chorar , apaguei o cigarro pela metade e lhe fiz carinho, querendo falar mas nada falando. Olhou pra mim com um ar mais calmo nos olhos, se levantou e ligou o toca-fitas.
PLAY!
Era nirvana tocando, ela olhou pra mim sorrindo com os olhos, foi então que chorei, enxuguei os olhos para que ela não percebesse, e sim ela percebeu. Me deu um beijo leve, pegou suas coisas e saiu...
Eu nada fiz, não me move, apenas chorei escutando as músicas que ela havia deixado, chorei até adormecer.
Ela não voltou no dia seguinte, nem no outro, nem no próximo, nem ontem...
- Ouvindo: Moveis coloniais de acaju ( sim ando ouvindo muito moveis,rs.)
Plural
Eu, você, nós, agora me parece realmente sustentavél usar essas palavras.
- Ouvindo: Moveis coloniais de acaju.
Vazio mal ocupado
Eu tenho essa sensibilidade de tinta velha.
Eu sempre tive isso aqui incorporando minhas veias em vez de sangue, e sempre que percebo que minha ave velha e triste inventa de sair pela garganta esmagando minhas tripas e sufocando meu ar, eu me seguro até encontrar um lugar vazio e escuro para engolir com uma dose forte de álcool a ave infeliz que tenta de alguma forma sair, demonstrando um outro eu que tão pouco existe, e sim ele existe.
Mas não, ele não ira sair,não é a hora de me desmanchar em lágrimas com plateia e falsos aplausos, num momento tão egoísta e tão meu.Tão seu, meu.
Agora sinto a garganta ardendo, invento uma gripe com a desculpa da inflamação, que joga fora uma grotesca dor de solidão, sim isso acontece quando se sufoca tudo dentro de si,sem arrependimentos ou reclamação volto pro meu quarto bebo um pouco de remédio querendo que cure a dor que machuca o meu coração, acendo um cigarro e paro por alguns segundos de sentir.
Já que em mim essa dor quase não para... e se para nem repara.
- Ouvindo: Moveis coloniais de acaju.
Depois de acordar...
- Tem tantas coisas da qual queria te falar, sério.
Pra mim seria realmente tentador apenas negar, mas não algo mudou.
Meu quarto foi remou durado, com papeis de parede e um pouco, só um pouco de mentira.
Mas se você realmente me pedisse eu colocaria na testa seu nome e com um recado... Estou de volta como nunca estive antes.
Bem agora é a hora de voltar a existir.
- Boa noite!
Publicar.
Existir... Pra quê ?
Se tudo que mais gosto não existe.
Minha vida, meu amor... eu, você.
-Ouvindo: Moveis coloniais de acaju.
Tum.
As vezes é bom fazer algo de errado só pra sentir o coração bater.
Em mim quase não batia.
TUM TUM TUM
Tum Tum Tum
Tum Tum Tum...
16 anos de muita rotina!
Nada mudou.
Ah! a unica coisa que mudou foi um numero a mais.
E de que me importa um numero a mais... Mas prometo que dessa fez paro de fumar !
Ressaca